quarta-feira, 10 de maio de 2023

O salto de fé


Em entrevista ao Estadão, Guilherme Arantes afimou que "o piano brasileiro morreu", que "hoje em dia ninguém mais toca piano", dentre outras afirmações que expressam uma angústia que eu posso dizer que compreendo.

De Guilherme Arantes pra cá, o cenário musical mudou muito e o mercado musical é cruel, não perdoa. Por essas e por outras eu cheguei a "abandonar o barco" pouco tempo depois de zarpar, ainda próximo à praia.

Qual é meu lugar nesse mundo? Como competir com os "Hot 100" da Billboard? Pra quê ser músico se ninguém vai querer escutar as músicas que você ama tocar? Pra quê estudar música se o que costuma fazer sucesso não tem tanto conteúdo?

Um belo dia eu percebi que estava fazendo as perguntas erradas, e que as próprias perguntas em si baseavam-se em conclusões erradas. Talvez nem estivessem todas "erradas", mas não ajudavam a resolver meu problema.

Estagnado profissionalmente, sozinho na praia, comecei a pensar que a solução talvez estivesse no mar, o mesmo que outrora não tive coragem de navegar. Então olhei no horizonte e, mesmo sem ver nada além de água, comecei a acreditar que era possível.

"Navegar é preciso", mas demanda coragem. Não é preciso nem saber nadar, basta coragem. Muita gente navega os sete mares sem nunca ter aprendido a nadar. E eu que sei nadar, por que não tentar novamente? 

Então, num desses momentos sobrenaturais de sincronicidade, me veio à mente uma cena profundamente simbólica de "Indiana Jones e a Última Cruzada", onde o herói se encontra diante de um abismo e não enxerga o caminho até ter a coragem de dar o primeiro passo, "o salto de fé".

Por mais perigoso que seja, o mar sempre foi e sempre será, por natureza, uma fonte de recursos muito maior que qualquer praia no mundo. Não o fosse, pescadores não arriscariam suas vidas adentrando-o para trazer o sustento de suas famílias.

Se tem uma idéia que me norteia, por mais ingênua que possa parecer, é a de que se existe alguém nesse mundo que consegue, teoricamente eu também posso conseguir. Ainda mais se houver não apenas um mas muitos alguéns... daí a coragem até aumenta.