Há anos atrás tive uma experiência sinestésica envolvendo música bastante interessante. Não lembro exatamente a época, mas sei que tinha acabado de me deitar e escutava no diskman um coral (arriscaria Bach). Havia acabado de caminhar muito e quando cheguei em casa, ao ir direto para a cama, não dei chance do meu corpo desacelerar. Com os olhos cerrados, fones de ouvido e no primeiro estágio do sono (meio acordado, meio dormindo), onde a percepção do ambiente externo se mistura com as imagens produzidas em nossa mente, o coral que escutava era desenhado a cada frase ou ornamentos musicais. Parecia uma superfície fluida, acinzentada e opaca, perpendicular ao meu angulo de visão. Essa superfície era afetada pelas vozes como pedras jogadas num lago. Mas um detalhe: a propagação além de circular era tridimensional, ou seja, crescia em direção aos meus olhos. A sincronização do balé de ondas tridimensionais com a música era perfeita. Foi um espetáculo particular, único e inesquecível.